Por Regis Tadeu, colunista do Yahoo! Brasil
Lembra do grunge? É, aquele movimento musical que gerou o adjetivo "banda de seattle" para qualquer grupo cujos integrantes usassem camisas de flanela ao lado de caras sorumbáticas e um som pesado e depressivo... Lembrou agora? Ou você era muito criança quando a MTV começou a bombar sua programação com clipes desses caras?
Bom, não importa. O que você tem que saber é que o tal de grunge já merecia um capítulo especial na história do rock só por ter jogado no lixo toda uma geração de bandas posers, que faziam um som mais aguado que café de orfanato. Sim, era o tal hard rock "farofa", com músicas pseudoagressivas que celebravam a ideia de que a vida se resumia a andar de carro por aí e traçar o maior número possível de garotas gostosas, sem esquecer, claro, de incluir umas baladas xaropentas, na linha "dor de corno", para justamente agradar a mulherada que queria ser traçada por cabeludos maquiados que mais pareciam strippers travestidos de homens. E tome aberrações como Dokken, Europe, Poison, Warrant e outras bobagens...
Pois então, o grunge jogou tudo isso no lixo. A sonoridade de bandas como o Nirvana, o Soundgarden e o Mudhoney - caras que cresceram ouvindo Dead Kennedys, Black Sabbath, David Bowie e Black Flag - veio como uma antítese total em relação à descartabilidade conceitual do glam metal farofento. Qualquer dia desses irei contar essa história aqui...
Mas não hoje. Acho que escrevi tal introdução aí em cima só para tentar situar o leitor dentro de um contexto que permita entender o lançamento de novos discos de duas das bandas mais importantes daquele tal grunge. Uma - a melhor daquela turma, na minha opinião - está viva novamente depois de perder seu vocalista; a outra nunca deixou de tocar e se transformou em objeto de culto de muita gente. Sim, me refiro ao Alice in Chains e ao Pearl Jam.
Black Gives Way to Blue é o disco que marca o retorno do grupo liderado pelo excelente guitarrista Jerry Cantrell. A pauta que rege o novo álbum ainda é aquele climão soturno que permeou os trabalhos anteriores, mas sempre com uma impecável execução instrumental. E se tem algo que impressiona logo de cara no novo álbum é justamente a habilidade de Cantrell em criar riffs fantasmagóricos e pesadíssimos. Isso fica evidente logo de cara com as ótimas "All Secrets Known" (confira aqui) e "Check My Brain" (veja o clipe).
William DuVall substituiu o antigo vocalista, Layne Stanley (morto por causa de uma overdose de heroína em 2002), com galhardia, mostrando o mesmo registro de voz do falecido. Mesmo assim, ele não deixa de imprimir uma nuance mais personalizada em alguns momentos, como na cadenciada "Last of My Kind" (veja aqui), mas ouvi-lo cantar nas boas "Take Her Out" e "Private Hell" (ouça aqui) vai causar um susto nos mais desavisados.
A pegada acústica de "Your Decision" (confira aqui), "When the Sun Rose Again" (confira aqui), esta conduzida com violões e tabla, e da faixa-título traz uma oxigenada ao clima sombrio, como se uma fresta de sol aparecesse no meio de nuvens negras. Em contrapartida, o peso mastodôntico de "A Looking in View" (ouça aqui), "Acid Bubble" (tão arrastada que mais parece um doom metal - confira aqui) e "Lesson Learned" (veja aqui), combinado com o triste lirismo das letras, faz com que as canções ganhem contornos épicos.
No geral, a qualidade de Black Gives Way to Blue é tão alta que deixa claro que Cantrell e seus companheiros fizeram a coisa certa: reconectar as raízes sonoras que fizeram a banda receber os devidos créditos como uma influência dos anos 90 a ser considerada pelas futuras gerações.
Enquanto isso, o Pearl Jam acaba de lançar Backspacer (veja um making of das gravações aqui) e certamente vai deixar um gosto amargo na boca daqueles que ainda se prendem a um sentimento de nostalgia quando ouvem o nome da banda, aquela turma que diz ser fã, mas que só conhece as canções do disco Ten que viraram videoclipes. O nono disco de estúdio dos caras expõe em menos de 40 minutos de duração que os caras não estão muito preocupados em voltar a ser o exemplo perfeito de sucesso comercial e despojamento em relação aos clichês típicos do show business.
O disco é uma sequência lógica e coerente dos discos anteriores, em que os andamentos das canções voltaram a ficar mais acelerados que o habitual como que demonstrando uma urgência do quinteto em abandonar os lamentos "papo cabeça". O pontapé inicial dado pelas aceleradas "Gonna See My Friend" (confira aqui), "Got Some", "The Fixer" (veja o clipe aqui) e "Johnny Guitar" (esta última com Eddie Vedder cantando com a mesma divisão rítmica com que o saudoso Phil Lynott fazia no Thin Lizzy) - ouça aqui - estabelece um contraponto interessante em relação a bela balada folk "Just Breathe" (ouça aqui) e a 'brucespringstinianas' "Amongst the Waves" e "Unthought Know" (confira aqui), canções que vão fazer com que pessoas pouco afeitas ao som da banda prestem um pouco mais de atenção aos caras.
"Supersonic", que já vinha sendo apresentada nos shows desde o ano passado - (veja aqui)), para depois misturarem Neil Young e Genesis (!) na linda "Speed of Sound" e exibirem simplicidade harmônica e melódica na interessante "Force of Nature" (ouça aqui). O final do disco, com a sintomática e singela "The End", deixa claro que eles não vão voltar ao topo da adoração com este disco. E parecem não estar muito aí para isso.
Muita gente começou a gostar de música por causa destas duas bandas. E pode ter a certeza de que tanto o Alice in Chains quanto o Pearl Jam ainda merecem a sua atenção.
Fonte:http://br.noticias.yahoo.com/s/13102009/48/entretenimento-volta-alice-in-chains-pearl.html
De todas as resenhas lidas até agora essa é a mais coerente e com argumentos embasados e não aleatórios como outras já vistas, e pra melhorar ele ainda mete o pau no hard rock oitentista que é um atraso musical mesmo.