quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Grunge


Artigo da Revista Blitz, de autoria de Jufil_23, todos os direitos e informações são do autor, apenas achei interessante e estou transcrevendo para o Blog, dividido em cinco partes, segue os links de cada uma delas.

GRUNGE (parte1)
O iníco...
A partir do início dos anos 90 duas palavras foram incorporadas ao glossário do Rock. O mundo todo falava em Seattle e o movimento musical que vinha de lá: o Grunge . Muito rapidamente, bandas como Alice in Chains, Pearl Jam e, especialmente, Nirvana, dominaram o mundo com as suas canções depressivas, pesadas e mescladas, ao que se chamou na época de Rock/Metal Alternativo.

De repente a moda do rock eram calças rasgadas, camisas ao xadrez e casacos de flanela velhos. Falava-se na ressurreição do Punk e também na morte do Metal. Mas na verdade, pouca gente sabe o que aconteceu no Noroeste americano no fim dos anos 80...

O início dos anos 80 viu surgir uma grande quantidade de novas bandas. Na altura existia o seguinte pensamento: "Ora, se não pára de chover, se o meu amigo tem uma banda e consegue tocar e se divertir, se eu sei tocar alguma coisa...que se lixe, eu vou formar a minha banda!". A partir daí nasceram dezenas de bandazecas e outras dezenas de óptimas bandas, fossem elas Punk, Hard Rock, Heavy Metal, ou...tudo misturado!

Quando a rapaziada começou a cansar-secdo Rock dos anos 80, começaram a tocar músicas despretensiosas, desconstruídas e infernalmente barulhentas. Um ponto influente nesse processo é o facto de que os integrantes dessas bandas não eram "roqueiros" e sim um bando de "nerds " frustrados, filhos de pais separados, que não tinham mais o que fazer a não ser ficar bêbados e saltar de um palco. Eles não eram entertainers, não entendiam os métodos do mainstream, tudo o que eles sabiam era fazer "barulho"! O lema punk "do it yourself" (faça você mesmo) tornou-se uma filosofia de vida, de forma que mais ninguém esperava por ninguém, nem por nada. Enquanto não estavam na escola, o pessoal estava a formar bandas e a lançar os seus próprios singles.

No meio de toda aquela efervescência underground, muito espontâneamente começaram a surgir bandas com sons peculiares, sendo que uma das primeiras foram os Green River , que hoje é considerada a clássica banda grunge. Teoricamente, o que se começou a fazer de diferente foi inverter a escala de notas das canções dos Sex Pistols e a dar um ar mais compassado, mais " Sabbathiano" por assim dizer.

Havia em Olympia um sujeito chamado Bruce Pavitt , que editava por conta própria coletâneas de bandas nacionais. Após lançar alguns trabalhos, Bruce mudou-se para Seattle, empolgado com o que estava a acontecer por lá. Reúne algumas bandas locais e lança em 86 o primeiro disco da Sub Pop, Sub Pop 100 . Passando por uma crise financeira, Bruce reencontra seu velho amigo Kim Thayil , agora guitarrista de uma banda chamada Soundgarden , que lhe aconselha a tornar-se sócio de Jonathan Poneman , um DJ que tinha o seu próprio programa de rádio, dinheiro e que queria muito investir no primeiro disco dos Soundgarden . Foi então que Jon e Bruce juntaram forças e a Sub Pop Records passou e existir como uma empresa.

A partir de 1988, bandas de várias cidades da região, especialmente das cidades mais próximas como Tacoma , Olympia , Ellensburg e Aberdeen, começaram a migrar para Seattle, que era onde as coisas estavam a acontecer. Até o fim do ano, a Sub Pop já tinha lançado bandas como Blood Circus , Soundgarden , Mudhoney , Tad e Nirvana . No mesmo ano, a gravadora pagou um vôo de Londres para Seattle, a um influente jornalista da conceituada revista Melody Maker, para que ele assistisse a um concerto dos Mudhoney . O tal jornalista ficou tão empolgado com o que viu, que escreveu um artigo enorme sobre o "som" de Seattle, e logo logo as bandas da Sub Pop estavam a fazer as suas primeiras turnês internacionais.

Do Noroeste para Seattle, de Seattle para a Europa, da Europa para o mundo! Até os próprios norte-americanos só perceberam o que estava a acontecer quando ouviram o single "Touch Me, I'm Sick" dos Mudhoney . E a Sub Pop achou as suas galinhas dos ovos de ouro!!!

Até 1990, poucas bandas de Seattle tinham conseguido contratos com as grandes produtoras: os Soundgarden , que sucederam aos galanteios da A&M em 89; os Alice in Chains , que fizeram o seu próprio caminho a partir de 87, assinando com a Columbia ; e os Screaming Trees , que de "grunge" nunca tiveram nada e assinaram com a Epic . O resto continuava indie, underground e desconhecida (pelo menos mundialmente).

Mas eis que nesse ano, os Sonic Youth , aconselham a sua gravadora a assinar contrato com uma banda da Sub Pop que eles consideravam serem muito boa: os Nirvana . Como todos já sabemos, os Nirvana nasceram em Aberdeen, a sudoeste de Seattle, quando Kurt Cobain e Krist Novoselic decidiram formar uma banda. Quando ouviu o primeiro EP dos Soundgarden pela Sub Pop, Kurt viu que era hora de se mudar para Seattle e ver no que dava. Conseguiram dinheiro e por indicação dos Melvins - que também vieram de Aberdeen e cujo vocalista Buzz Osbourne ensinou Kurt a tocar guitarra - foram bater na porta de Jack Endino , o engenheiro de som que a Sub Pop usava e que se tornou o "mago do grunge". Com ele, os Nirvana gravaram uma demo contendo 10 músicas, as quais Endino considerou as melhores que ele já havia gravado. Após assinar com a Geffen , em 91 a banda lança seu segundo álbum, "Nevermind" , e o resto já se sabe... ;)

Da mesma maneira que a Sub Pop havia vendido o som de Seattle para a região e para a Europa, os mídia começaram a disseminar a idéia de uma novidade no Rock. Os Alice in Chains já haviam chutado a porta do mainstream com seu Hard Rock alternativo e agora os Nirvana vinham para derrubá-la. Mais ou menos ao mesmo tempo, os Pearl Jam , que haviam nascido das cinzas do Mother Love Bone , que haviam nascido das cinzas dos Green River , que de suas cinzas fez nascer os Mudhoney , lançam o seu primeiro álbum, já na Epic, e faz Seattle entrar de vez para a história do Rock.

Aliás, relações incestuosas é uma das características das bandas de Seattle. A coisa vem de longe: Andrew Wood era vocalista dos Malfunkshun . Quando a banda acabou ele formou os Mother Love Bone junto com Stone Gossard e Jeff Ament , que haviam vindo dos Green River e tocavam junto com Mark Arm e Steve Turner , que mais tarde formaram os Mudhoney . O baterista do Mudhoney já tocou com os Nirvana , assim como Jason Everman já foi guitarrista, tanto dos Nirvana quanto dos Soundgarden ...

O fato é que, se de um lado a indústria fonográfica e as próprias bandas contratadas estavam a alcançar o nirvana , a cena musical da região noroeste e principalmente de Seattle foi vituperada. Todo o mundo começou a achar que Seattle só tinha bandas grunge e, de repente, a cidade foi invadida por jornalistas, empresários e malucos procurando os novos Nirvana. Quem foi esperto deu-se bem... Ironicamente os Mudhoney , considerada por gente como Kurt Cobain e Dave Grohl , a melhor banda de Seattle, foi a última das pioneiras a assinar com uma grande, a Reprise . A verdade é que a mercantilização da música sufocou a intensidade musical da cena. Não havia mais sinceridade nem diversão, havia o dinheiro...


GRUNGE (parte 2)
Sucesso e banalidade...
Em 1992, Seattle tinha cerca de 1000 bandas de rock a amontoarem-se pela cidade! Havia disputa para se conseguir tocar num bar e andavam todos atrás de contractos milionários. Bandas novas começaram a copiar o som de bandas como Soundgarden e a ser vendidas como o "o novo som de Seattle", enquanto que elas eram da Califórnia ou Texas...

Embora pareça demagogia, nenhum dos grandes nomes do grunge estava a correr atrás da fama. É óbvio que o que fez Kurt Cobain sair de Aberdeen para Seattle era a vontade de fazer rock n' roll e tornar a sua música conhecida, mas o plano era vender umas 1000 cópias do primeiro disco, percorrer os bares do país e viver uma vida tranquila. Faz parte da própria ideologia punk e grunge, a aversão à fama e ao sucesso, pois junto com eles vem as armadilhas da responsabilidade, e isso era a última coisa que tinham em mente.

Alçados repentinamente ao estrelato (com Nevermind que bateu Michael Jackson da primeira posição dos tops), os representantes do grunge faziam o possível para manterem-se distantes dos mídia. Eles insistiam em dizer que faziam a música que queriam e que em nenhum momento tinham planejado ser famosos. Eddie Vedder e Kurt Cobain chegaram a ser denominados os porta-vozes da "Geração X", alcunha que detestavam.

Outro ponto forte a ser vasculhado pela imprensa da época foi, sem dúvida alguma, o relacionamento atribulado de Kurt Cobain e Courtney Love que rendeu centenas de reportagens, na sua grande maioria, sensacionalistas, invadindo totalmente a privacidade que Cobain queria manter.

Não é à toa, um dos motivos apontados actualmente para o suicídio de Kurt Cobain, que foi o incansável assédio dos mídia, que sugere que Kurt não queria ser o herói de absolutamente nada e que, numa atitude desesperada, tenha posto fim à própria vida.

Eddie Vedder e os Pearl Jam usaram inúmeras estratégias para conseguirem manter-se afastados o suficiente para lidar com o sucesso da maneira mais saudável. Talvez por isso estejam na activa até hoje. Com o esfacelamento do grunge, eles já não causam o deslumbramento do passado, mas permanecem vivos e bem vivos...


GRUNGE (parte 3)
O som de Seattle...
Grunge é uma combinação de punk e heavy metal, tendo como principais mentores dessas vertentes os Stooges e os Black Sabbath . Se as guitarras têm uma influência clara do metal dos anos 70, a abordagem das letras e a atitude foram adoptadas do punk.
Pode-se fazer uma distinção entre as bandas grunge. As da primeira safra - Green River, Soundgarden e Mudhoney - têm uma sonoridade bem mais pesada do que as da segunda, que tem como seu melhor exemplo os Nirvana. A banda abusa das distorções de guitarra e dinâmica punk de tocar músicas curtas de maneira rápida.

A famosa gravadora Sub-Pop foi o epicentro inicial do movimento e ali o grunge original era mantido como se as gravações fossem feitas na garagem. Os primeiros álbuns de Nirvana, Soundgarden, Mudhoney datam dessa época e conservam uma sonoridade mais crua do que os que viriam a seguir. A produção dos álbuns ficava a cargo do famoso Jack Endino , que conservava integralmente as características musicais de cada banda.

A partir do momento em que Seattle e o grunge adquiriam importância histórica e chamavam a atenção da imprensa especializada, as bandas assinaram contratos com grandes gravadoras, dando mais importância à produção e perdendo um pouco da crueza original. Nevermind, o álbum mais cultuado pelos admiradores do grunge, teve a sua sonoridade mais "limpa", tansformando o grunge num produto mais acessível comercialmente. Esse viria a ser o grunge moderno e é o que mais estamos acostumados a ouvir...


GRUNGE (parte 4)
A morte do grunge...
A popularidade que o grunge atingiu teve vida curta. Muitos acreditam que o grunge começou o seu declíneo com a morte do lider dos Nirvana, Kurt Cobain em 1994.

As pessoas costumam associar a fama à necessidade de se drogar. Parece que para se fazer sucesso, ser uma estrela, é necessário um pouco de heroína... Talvez ninguém tenha parado para pensar que a realidade é exactamente o oposto...

Andy Wood foi a primeira vítima da "cena". Na verdade, ele e a sua banda, os Mother Love Bone , nunca foram muito conhecidos até serem incluídos na trilha do filme Singles , de Cameron Crowe. Jack Endino diz que Andrew era o único roqueiro comediante que Seattle tinha, muito engraçado e com uma disposição contagiante. Há quem diga que se ele não tivesse morrido por causa de uma overdose de heroína em 1990, os Mother Love Bone teriam ocupado o lugar que os Nirvana ocuparam e Andy seria o que Kurt será para sempre. E ele ainda nem era famoso!

Basta pensar: tu tens uma banda com os teus amigos; adoram tocar para outros amigos e serem aplaudidos por eles; queres gravar um disco e tocar por bares, tornar a tua música conhecida; tudo o que queres é divertires-te. Sem esperares aparece uma oportunidade de ganhar dinheiro enquanto te divertes, e agarras essa oportunidade. De repente começas a ser obrigado a fazer concertos com bandas que odeias, a gravar discos melhores que os anteriores, a dar entrevistas idiotas e a ter a tua vida pessoal exposta. Não é mais diversão, mas sim obrigação! E o seu sonho é sufocado pela comodidade.

Sim, Kurt cometeu um erro e o facto de se transformar no ícone de uma geração foi demais para ele, e em Abril de 1994, deu um tiro na cabeça. Simbolicamente, a morte de Kurt Cobain representou a morte de tudo que era falso e que foi fabricado em cima de algo verdadeiro e sincero. A morte de uma jogada de marketing que deu lucro às grandes gravadoras - hoje o underground é perfeitamente vendável - e prejuízo ao rock, especialmente o de Seattle. O que é mais doloroso é que Kurt foi, e ainda é, o mais sincero e mais verdadeiro que o rock já conheceu...


GRUNGE (parte 5)
E a vida continua...
Embora a morte de Kurt tenha sido uma perda incalculável, por outro lado, a morte do frenezi sobre Seattle fez bem à "cena". Ainda que algumas das bandas do boom do grunge, como Tad e Soundgarden (além dos Nirvana) tenham acabado, bandas como Fastbacks, que estão na activa desde 1979, continuam a agitar os bares. Nada nunca será a mesma coisa depois do grunge e dos Nirvana, mas a "cena" roqueira de Seattle vai bem, obrigado.
A Sub Pop continua, embora sem Bruce Pavitt e embora sem os grandes responsáveis pelo seu sucesso. Ainda é uma gravadora indie, graças a Deus. A lição tirada de tudo fez com que bandas como os Pearl Jam continuassem no mainstream, mas livres de qualquer pressão, e a fazer o que querem fazer.

Mas também, as bandas de garagem, o coração do rock de Seattle e adjacências continuam a funcionar. O mesmo tipo de guris sinceros e tímidos continua a dar vida à cena musical, que agora inclui bandas de rap, electronic e new metal. A atitude é a mesma, os tempos é que são outros.

Depois de tudo o que aconteceu, Eddie Vedder reflecte: "Se toda a influência que as bandas e as pessoas tiveram sobre a indústria e sobre o público, não tiver resultado em nada positivo, esta será a verdadeira tragédia de tudo isso."

Na verdade, cabe agora a nós, que somos grandes fãs de tudo o que Seattle nos concedeu: as bandas, a sonoridade, os ícones... Cabe-nos tirar lições de tudo o que aconteceu: a questão da sinceridade com o que se faz; da atitude de não esperar as coisas acontecerem; das armadilhas que o sucesso traz; das consequências trágicas da relação com as drogas, até mesmo da importância que os nossos pais tem nas nossas vidas...pode parecer piegas, mas é algo que é bastante relevante...

Também se devia seguir o conselho de Kurt , quando ele disse que esperava "que as pessoas não copiassem o seu estilo, nem a sua música, mas sim a sua atitude". Ele também queria que aproveitássemos a oportunidade que os Nirvana deram ao expor o underground, e ir atrás das boas bandas escondidas por aí. Não deixemos que a sua morte tenha sido em vão...

Grunge is dead, rock and roll will never die!

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